Startup com R$ 250 mi em contratos visa eliminar a necessidade de carregadores de celulares de forma sustentável
A IBBX já levantou US$ 7,6 milhões em rodadas de investimento com a participação de fundos como Indicator, Citrino Ventures e Alexia Ventures.
Com três patentes registradas nos Estados Unidos e uma no Brasil, a IBBX tem grandes sonhos. Um deles pode ser compartilhado com toda – ou quase toda – a população mundial. A startup quer eliminar baterias, cabos e carregadores, acessórios indispensáveis nas bolsas e mochilas de quem usa o celular como uma extensão do corpo.
Os caminhos para alcançar esse objetivo envolvem uma tecnologia que a empresa desenvolve desde 2018, em Capivari, uma cidade de menos de 50 mil habitantes no interior de São Paulo. A startup criou equipamentos que, utilizando sensores, “reciclam” a energia eletromagnética presente nos ambientes para recarregar os dispositivos. Além disso, a inovação captura dados que são transmitidos e analisados por IA para identificar problemas ou necessidades de reparos.
Como é a operação da startup
A grande ambição da IBBX é revolucionar o mercado de telecomunicações, um projeto que deve consumir cifras expressivas, dependendo dos usos: pessoal, residencial e até automotivo. Por isso, a startup tem avançado no mercado de IoT (Internet das Coisas) como forma de gerar valor e receita para sustentar o negócio. Com pequenos sensores de longo alcance e baixa tensão instalados em fábricas e áreas agrícolas, a IBBX monitora o uso dos maquinários ao mesmo tempo que recarrega os equipamentos com a energia captada do ar.
A operação começou efetivamente há 14 meses e acumula R$ 250 milhões em contratos assinados com empresas como Saint-Gobain, Nestlé e Unilever. “Decidimos começar por IoT por ser uma área que demandaria um esforço menor e nos traria maior retorno. E tem sido muito bom, há muitas coisas acontecendo”, afirma Fernando Destro, co-fundador e CEO da IBBX. Nas planilhas, a startup mira R$ 1 bilhão em contratos até o final de 2025 e um valuation de 1 bilhão de dólares, alcançando o status de unicórnio.
Qual é a origem da IBBX
Nascido em Mombuca, uma cidade de 5 mil habitantes no interior de São Paulo, Destro é a mente por trás da operação. Desde pequeno, trocou os cavalos, passarinhos e bois do sítio onde cresceu pelos livros de física. “Sempre fui muito curioso, desmontava rádios, montava coisas”, diz.
Aprovado em física na Unicamp, ele ficou no curso por menos de 15 dias, achando-o muito teórico. “Sempre fui muito prático”. Ele saiu para estudar engenharia em uma universidade em Piracicaba, próxima à sua cidade natal. Ficou um pouco mais, mas não concluiu o curso, começando a estagiar em uma empresa que fazia construções industriais, de estruturas a monitoramento e automações.
Enquanto instalava painéis elétricos e dispositivos de controle de medição, percebeu ruídos eletromagnéticos, interferências provocadas por variações nas correntes de energia. “Comecei a me perguntar de onde vinha aquela energia, como medir e tudo mais. Tinha essa curiosidade. Sem nenhum tipo de ambição gigantesca”, conta.
A curiosidade o levou a horas de estudo até encontrar uma equação que explicasse o fenômeno, conhecido na física como “energia reativa do campo eletromagnético”. A transformação da pesquisa em negócio ocorreu quando compartilhou suas ideias com William Aloise, então diretor de inovação na Saint-Gobain e atual sócio. Aos dois, juntou-se o engenheiro de software Francisco da Silva Filho.
Como a startup cresceu
A IBBX começou em um pequeno galpão em Capivari e ao longo dos anos captou US$ 2,6 milhões em rodadas seed entre 2018 e 2021, e US$ 5 milhões na Série A com investimentos dos fundos Indicator, Citrino Ventures e Alexia Ventures, em 2022. O último recurso veio da agência de fomento Finep, um aporte de R$ 8 milhões. Hoje, os dispositivos da startup monitoram 5,5 mil ativos, como maquinários industriais e do agronegócio, seus dois principais mercados. Esse montante representa apenas 7% da demanda dos clientes que contrataram o serviço.
A previsão é que esse percentual chegue a mais de 20% até o final do ano. “A complexidade para acelerar está mais em termos de operação, de pessoas e de entrega”, afirma Destro.
Além da operação no Brasil, a IBBX mantém contratos em seis outros países, como Estados Unidos, Holanda, Peru, México, Chile e Colômbia, fruto de uma internacionalização “forçada” pelos clientes multinacionais. A expansão orgânica, porém, deve ficar para um segundo momento.
“A expansão será via Brasil”, afirma Vinicius David, COO e um dos primeiros investidores na IBBX, referindo-se às negociações da startup para oferecer produtos a outros mercados, como cidades e prédios inteligentes. “As premissas básicas são redução de custo e manutenção e a melhoria da experiência dos frequentadores, no caso de um shopping, por exemplo”, afirma.
Uma startup e dois unicórnios
Embora dedicada à expansão do mercado de IoT industrial, a equipe da IBBX continua trabalhando para eliminar cabos, baterias e carregadores dos usuários finais. Atualmente, a startup tem acordos de confidencialidade com três fabricantes que poderiam incorporar a tecnologia em seus dispositivos.
Segundo Fernando, a forma de uso e o formato dos sensores variarão conforme a aplicação. Em residências ou estabelecimentos comerciais, o modelo tende a operar como um roteador, concentrando e amplificando a energia. Em vez da senha da internet, os usuários pedirão a senha para a carga elétrica.
Nas contas dos sócios, o serviço de IoT pode gerar um unicórnio em dois anos, e a aposentadoria das baterias e cabos pode criar um segundo unicórnio no médio prazo.
O otimismo vem da combinação entre hardware e software, um modelo em alta na tecnologia, como mostram os números da Nvidia e Microsoft. “É uma tecnologia nova e 100% brasileira. Mostra que investir em ciência é recompensador para o país”, afirma Destro.